A ENTIDADE DONKEY - Parte I
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em 12-04-2011 às 02:05 (2551 Visitas)
O termo “Entidade Donkey” foi criado aqui mesmo no PD por algum colega nosso, e utilizar essa chave como pesquisa no fórum não me ajuda a localizá-lo. Assim, gostaria, antemão, de parabenizá-lo pela criação - mesmo anônimo até que se pronuncie – uma vez que o conceito de “entidade” aplica-se perfeitamente aos atributos do “comportamento donkey”.
Conforme lhes havia adiantado, em meados dos anos 90, fiz parte de um grupo de pesquisadores dos fenômenos “psy”. Esse grupo foi criado pelos honoráveis doutores Wellington e Fátima Zangari, nas dependências da PUC, em São Paulo, e mais tarde incorporou também os domínios da USP. Suas formações básicas foram, respectivamente, Ciências da Religião e Psicologia, porém ambos buscaram tantas outras extensões de conhecimentos que passaram a ser referências nessa área de estudos no Brasil.
Foi uma época de grandes aprendizados para mim, porque desse grupo faziam parte os maiores nomes dessa incrível pesquisa: A Mente Humana e os Processos da Cognição.
Lembro-me de ser um dos poucos, naquele grupo, cuja formação, embora regular, não alcançava as esferas da cientificidade.
Ali aprendi os princípios básicos do modelo científico e acompanhei profundas discussões que ocorriam no metier, até perceber a importância dos processos de formação de consensos como certificação para determinadas idéias. Aprendi também sobre os porquês dessa busca consensual pelos defensores de referenciais teóricos, já que as observações diretas da realidade necessitavam aguardar pelos avanços tecnológicos.
Este Universo da Ciência é mesmo apaixonante.
Voltando aos propósitos daquele grupo, logo no inicio da sua criação foi necessária certa mudança na descrição dos seus objetivos. Isso porque, à priori, seus estudos possuíam uma definição “negativa”:
“O estudo das possibilidades de comunicação entre mentes e/ou mente e matéria, que não se processe pela utilização dos sentidos humanos conhecidos”
A partir dessa constatação, os dirigentes do grupo alinharam esse objetivo para:
“O estudo das alegações de fenômenos anômalos”
Porquê o termo alegações resolveu a questão? Confesso aos amigos Pders que demorei um pouco para entender isso, mas aqui vai:
“Para a ciência, TODA experiência subjetiva é real”
A amplitude dessa afirmação, prezados amigos, é bem maior do que pode parecer à primeira vista. Tentarei explicar e espero não me estender demais nesse blog, por ser o assunto um pouco complexo.
Imaginemos a seguinte cena:
Uma pessoa, paranormófila (daquelas que acreditam em tudo que ouvem), encontra-se ao centro de uma roda composta por um espírita, um padre, um pastor evangélico, um psicólogo e um psiquiatra, e relata que tem o dom de “ver espíritos”.
Nesse momento pode-se perceber certo desprezo no semblante de algum, um disfarçado sorriso em outro, porém a seriedade nos representantes da ciência será certa.
Pede-se então ao grupo que oriente essa pessoa.
O espírita a orientará a desenvolver a mediunidade, tomar passes e participar de uma “desobsessão”.
O padre a conduzirá ao confessionário e às penitências para livrar-se dos “maus pensamentos”.
O pastor evangélico lhe recomendará “orar para afastar de si o demônio”.
O psicólogo irá agendar algumas sessões de terapia, na intenção de rever seus conceitos de acordo com seu “referencial teórico” (Froid, Lamarck, Yung, etc).
O psiquiatra lhe recomendará um tratamento bio-quimico para reprimir “alucinações”.
Independente das suas crenças, caro amigo Pder, o que deve ficar claro aqui é que A EXPERIÊNCIA SUBJETIVA vivida pela depoente, deve ser considerada REAL.
Ela de fato “vê espíritos”, porque ACREDITA na existência deles. Todavia, cada INTERPRETAÇÃO dessa experiência é que pode variar, de acordo com as diversas escalas de valores / crenças, porém jamais a experiência em si.
Tentemos agora ir em direção ao propósito dessa conversa: Nosso desprezível amigo Donkey (rsrsrs).
ESCALAS DE VALORES, diversas delas, podem ser absorvidas pelos nossos cérebros, e mantidas em sigilo absoluto pela nossa psique. Segundo determinados processos de alteração da consciência (beta, alpha, delta), quer sejam conscientes (experiências de relaxamento), ou induzidos (rituais, hipnose, etc), em algum momento qualquer das nossas vidas uma dessas IDENTIDADES poderá aflorar e assumir o controle das nossas ações.
Temos aqui o mais elementar dos conceitos tratados pelo estudo das múltiplas personalidades, mas isso é conteúdo para outras discussões. Importante aqui é somente entender que IDENTIDADE está diretamente ligada a uma ESCALA DE VALORES.
Da mesma forma, a ÚNICA diferença entre dois computadores de mesma marca e características técnicas é o SOFTWARE. Se os softwares forem diferentes, em alguma medida que seja, seus comportamentos serão também diferentes, na mesma medida.
Assim também somos nós, seres humanos. A única diferença entre nós são os nossos valores.
Mas o que são esses VALORES?
Um LAG e um TAG agem de formas diferentes nas mesas porque respondem a diferentes escalas de valores. Devo ou não entrar na mão com essas cartas? Nessa posição? Contra esse cara? Pagar ou aumentar? Quanto?
CRENÇAS, VERDADES ou VALORES podem ser considerados sinônimos (ao menos para o propósito dessa conversa).
Quando um espírita entra num Centro, e começa a ouvir o ritmo do atabaque, a sentir o aroma dos incensos, a “entrar naquele clima”, responde diretamente ao ritual que desperta em si próprio determinada “entidade”, que não a sua em estado de vigília, mas uma outra IDENTIDADE, e passa a responder aos valores (crenças) dessa outra “escala”. Segundo a ciência, nesse estágio a pessoa dissocia a identidade presente (ou padrão).
Já ouvimos muito na mídia sobre o julgamento de pessoas que cometem crimes “sob forte tensão emocional”, ou “sob o efeito de determinadas drogas”, como inimputáveis ou, no mínimo, como efeitos atenuantes de pena. Diferente de “atos premeditados”, quando a pessoa é aquela a quem atribuímos a cidadania, e a quem queremos de fato julgar.
Quero deixar bem claro aos amigos Pders, que minha intenção nem passa perto de justificar ou injustificar crenças de quaisquer naturezas. Portanto, ao entenderem essa mudança de comportamento por dissociação da identidade, queiram ajustar o conceito às suas próprias crenças, quer sejam a incorporação mediúnica, a aproximação de entidades malignas ou alienígenas, etc. Importante aqui é o consenso de que, ao alterarmos nossos estados de consciência “podemos ou não” assumir uma nova forma de comportamento, uma nova IDENTIDADE.