No poker existem diversos níveis de jogadores, desde o nível básico – aqueles que só pensam na força de suas mãos – até os níveis mais avançados, que pensam em ranges, metagame, etc.
Neste artigo, vamos utilizar de exemplo uma mão discutida por Chris Moorman (lenda do poker online com mais de $10 milhões de dólares em ganhos) para pensarmos em como os pensamentos avançados entram em ação, e como podemos usar destes pensamentos para tomar boas decisões.
A mão em questão ocorreu em um torneio de no-limit texas hold’em, com blinds em 25/50.
Um jogador de MP abre raise para 150, nosso hero da call no SB com :Ac :Jd e o flop traz :Jc :Kd :4h . O hero da check, e depois da call na C-BET de 300 do vilão. O turn traz um :Qc , o hero da outro check, o vilão aposta 500 e o hero desiste de sua mão.
O fold no turn, e a forma como a mão foi jogada no geral parecem bem standard, se olharmos sem pensar profundamente na ação. Mas Moorman foi mais à fundo, e disse que o call no SB é um erro, e não aplicar um check-raise no turn, com uma aposta ainda maior no river, é um erro ainda pior.
Inicialmente muitos podem pensar que isso seria um verdadeiro desperdício de fichas, até pelo fato do torneio ainda estar em fase inicial. Mas, após a explicação de Moorman, provavelmente você irá mudar de ideia de gostar da linha mais agressiva adotada pelo profissional.
Inicialmente, Moorman diz que o call no flop é obrigatório, já que um vilão betando cerca de 85% do pote parece um pouco estranho, e quase certamente é um par médio que não quer mais ação, como turns ou rivers.
No turn, o vilão reduz significativamente o size de seu bet, para cerca de 53% do pote. Essa decisão inspira Moorman a trocar a sua linha para uma mais agressiva, aplicando assim o check-raise.
De acordo com Chris Moorman, apesar da :Qc não ser a melhor carta do mundo para nosso hero, se o vilão for ao menos um jogador mediano, aquele que já tem capacidade de pensar “o que meu oponente tem?”, ele saberá que o :Qc fortalece o range de nosso hero, pois mãos como KQ se encaixam perfeitamente na forma com que a mão foi jogada até agora.
Se o vilão sabe que o :Qc é bom para o range de nosso hero, ele certamente apostaria mais do que 53% do pote no turn, para extrair um valor maior, sabendo que o hero nunca foldaria.
Por fim, Chris Moorman diz que o vilão deve ter alguma mão como AK, que teria que se preocupar com um possível KQ de nosso hero, ou até mesmo um set ou um straight, mas aposta do mesmo jeito por dois motivos: 1 – não quer dar um free card, 2 – não quer perder a iniciativa, ou 3 – não inflar demais um pote com uma mão que era super forte e agora pode ser marginal.
Pelos motivos acima, Moorman acredita que um check-raise no turn seria uma linha excelente a ser seguida nesta mão, com uma aposta pesada em rivers bons para nosso range. A menos que, é claro, o vilão tenha altas tendências a ser calling station. A linha do hero representa muito bem um set, e raramente seria uma mão marginal transformada em blefe.
Este exemplo mostra como um nível de pensamento múltiplo pode nos gerar boas oportunidades para tirar fichas e lucro em situações aparentemente marginais. Preste atenção no nível de seu oponente, em seu sizing, e experimente novas linhas!
Artigo traduzido e adaptado de: Using Multiple-Level Thinking To Turn a Hand Into a Bluff