Eu adoro observar pessoas. Outros seres humanos são fascinantes. Mesmo quando estou em um museu ou em um zoológico, um lugar que tenho visitado para ver as únicas coisas não humanas à mostra, eu normalmente gasto boa parte do meu tempo observando as pessoas olhando para as placas informativas.
Uma das interações consistentes entre as pessoas que você vê nesses lugares é essa: um membro do casal está olhando para o animal em exposição, enquanto o outro está lendo a placa informativa. Aquele que está lendo a placa irá aprender algum fato interessante – e a primeira reação é querer dividir isso.
“Ei, querida, aqui diz que os leopardos das neves são predominantemente brancos porque o clima frio congela o DNA que é responsável pela pigmentação!” (nota: isso não é um fato. Eu inventei).
Eu acho que todos nós temos o impulso de ensinar aos outros o que sabemos. Isso está profundamente arraigado nas características que nos fazem ser animais tão sociais. A necessidade de ensinar o que sabemos é o que tem nos permitido evoluir como espécie. Nós não temos que descobrir do princípio como fazer fogo, plantar trigo ou dirigir um carro. Um dos nossos companheiros humanos irá nos ensinar, assim como ele ou ela foi ensinado anteriormente.
Esse impulso se manifesta nas mesas de poker, assim como em outras situações. Vou esboçar uma cena e você pode pensar sobre como você reagiria a ela.
O jogador A aumenta a aposta. O jogador B olha para as suas cartas e paga. O flop vem. O jogador A aposta. O jogador B olha para suas cartas de novo, suspira, e desiste. Então ele diz, claramente frustrado: “Quando você tem um par você deve flopar uma trinca uma a cada três vezes, em média, mas tenho jogado dez horas hoje e ainda não acertei.”
Agora, se você é experiente o suficiente para ler sobre dicas de estratégias, você provavelmente já sabe que a verdadeira probabilidade de acertar uma trinca no flop é de aproximadamente 12%, ou próxima de 1/8 das vezes, diferentemente das três vezes que o pobre jogador B está pensando que os deuses do poker devem a ele. Você contaria a ele?
Isso certamente é tentador, não é? Parte disso provavelmente é ego – você ganha um pouco de satisfação pessoal por saber a resposta correta enquanto outra pessoa não sabe. Mas parte disso também é simples, universal, louvável desejo de dividir o nosso suado conhecimento.
E então, você faz isso? Espero que não!
Como regra geral, a mesa de poker é um lugar terrível para ensinar alguém sobre poker. Isso é particularmente verdadeiro se essa pessoa é desconhecida para você, como normalmente será o caso. Vamos enumerar os emotivos pelos quais normalmente é má ideia dar conselho de poker ou informações não solicitadas:
- Ninguém gosta de ser avisado que ele ou ela está errado.
- Você pode iniciar uma discussão sem sentido que prejudique o humor de todos.
- Se você ensinar as pessoas a jogar melhor, eles provavelmente jogarão melhor, o que lhe custa dinheiro.
- Você pode ser taxado como um “sabe tudo”, o que não é uma característica popular na maioria dos grupos sociais.
- Você se marca como alguém que sabe mais sobre poker do que os outros. Pode haver novatos na mesa que não tinham ideia que se quer era possivel calcular probablidade. Como resultado, eles podem sair do jogo, se sentindo intimidados , ou evitar jogar mãos especificamente contra você porque agora eles percebem que estão em desvantagem.
- Se o jogador B acredita em você, ele irá perceber que não é tão azarado como estava pensando. Normalmente as pessoas jogam pior quando estão se sentindo sem sorte, então você pode melhorar sua atitude e performance.
- Seu comentário dá aos outros jogadores mais informações sobre o que você sabe sobre poker e sua experiência. Isso é algo que é melhor que você force-os a descobrir por si mesmos porque isso é uma informação que torna mais fácil adivinhar como você como você joga e, consequentemente, vencer você.
Vale ressaltar que alguns ensinamentos são perfeitamente aceitáveis
Apesar dessa longa lista de possíveis más consequências, há muitas coisas que são perfeitamente aceitáveis de ensinar aos outros jogadores. Isso é particularmente verdadeiro quando você reconhece que alguém está jogando pela primeira vez. Há uma longa lista de dicas que, se você notar que eles não tem certeza sobre, não estão na lista citada.
Assim como alguns exemplos que jogadores iniciantes não compreendem, é aceitável explicar como as blinds e os straddles funcionam, como se comportar nas mudanças de mesa, onde fica a sala de descanso e os mecanismos de como funciona quando você não tem a quantia exata de fichas para apostar ou pagar uma aposta.
Colocando de forma mais genérica, todos os auxílios são aceitáveis. De fato, na maioria dos casos o beneficiado pelo sua ajuda ficará agradecido e você se sentirá muito bem por ter ajudado alguém inexperiente. Essas coisas não revelam nada sobre você, apenas que você já jogou pelo menos uma ou duas vezes antes, e não lhe ensina nada que torne mais difícil ganhar o dinheiro dele.
Mas dicas sobre estratégias, fatos do poker, como jogar em determinada situação e afins – isso tudo é passar dos limites. Não é porque as regras permitem tais discussões, mas apenas porque é uma má ideia por todos os motivos mencionados anteriormente.
Se algum dia você se tornar um coach de poker, ótimo – as pessoas podem pagar a você para revelar tudo o que sabe. Mas mesmo assim você faz isso fora da mesa, não enquanto um jogo está ocorrendo.
Caso alguma situação como a que descrevi surja, resista à necessidade de corrigir o problema. Preste atenção e veja se mais alguém sucumbe à tentação de ser o professor. Se eles sucumbirem, isso lhe dirá algo importante sobre ele – que ainda não progrediu em sua sabedoria de poker o suficiente para saber quando ficar quieto.
Artigo adaptado e traduzido do original: Seven Reasons Not to Be the Table’s Poker Know-It-All