Na última semana eu assisti a série da Netflix Jessica Jones que se passa no universo cômico dos livros da Marvel. O personagem principal é um investigador particular na Cozinha do Inferno que possui uma força fenomenal (e um temperamento muito ruim).
O vilão durante a primeira temporada é um homem conhecido apenas como Kilgrave. Seu superpoder é sua habilidade de controlar completamente as ações das outras pessoas apenas dizendo a elas o que fazer.
No episódio 6, nós aprendemos pelo menos uma das maneiras pelas quais Kilgrave consegue dinheiro para financiar seus enredos – poker. Ele vai até um jogo high stakes clandestino, onde parece estar acontecendo um jogo de hold’em. Assim que as duas cartas são distribuídas para todos, ele diz aos outros jogadores, “Vamos todos all-in in”. Eles são incapaz de resistir ao comando.
Ele pergunta ao dealer quanto há no pote. Um pouco mais de um milhão de dólares, ela diz. Kilgrave diz que é o suficiente para o que ele planeja fazer.
Depois, mesmo antes de as cartas do flop sairem, ele diz aos jogadores, “Vamos fazer uma maluquice. Todo mundo dá fold. Eles fazem. Kilgrave exclama “Oh, acho que isso faz de mim o vencedor” – e mostra seus 72o. Ele coleta o dinheiro do pote e sai.
Agora, o meu verdadeiro lado – que para começar, provavelmente não deveria estar assistindo programas de TV sobre super heróis – se pergunta por que ele se incomoda em jogar cartas. Por que não apenas entrar e dizer “Me passem o seu dinheiro”? Mas o jogador de poker em mim pensa, “É um poder que poderia ser muito útil em algumas mãos complicadas.”
Suponho que todo jogador tenha, mais de uma vez, tentando fazer passar um blefe e tentado mentalmente controlar a escolha de um oponente. Nós gritamos em nossas mentes, “Desista!” Ou, ao contrário, quando estivesse com a melhor mão, “Pague!”
Daniel Negreanu é muito experiente neste assunto
Daniel Negreanu não é exatamente o Kilgrave, nem no controle da mente e nem na maldade. Porém, em alguns momentos ele é capaz de induzir seus oponentes tão bem que parece ser qualificado para se tornar o aprendiz do Kilgrave.
Aqui está um exemplo clássico que ocorreu no Main Event da European Poker Tour de Londres em 2010. Negreanu, segurando :Td :9d , pagou três apostas do Angel Shlomi. Agora ele se depara com uma aposta no river com o bordo apresentando as seguintes cartas: :9s :5s :4c :Qh :8c
Surpreendentemente, Negreanu anuncia raise. Evidentemente não esperando isso, Shlomi começa a pensar sobre o que fazer. A partir daí o Negreanu faz uma jogada do estilo do Kilgrave. Ele diz ao Shlomi, “Eu acredito que você tenha AA ou KK… Penso que tenha AA ou KK.”
Ele está certo. Shlomi tinha :Ks :Kc
Enquanto o comentarista James Hartigan diz, “E Shlomi agora está pensando. “Se você me colocou em AA ou KK, certamente você ganha de AA ou de KK. Tenho que desistir.” E ele desistiu! Isso equivale ao dizer do Obi-Wan Kenobi, “Esses não são os robôs que você está procurando.”
Então o controle mental no poker realmente ocorre, pelo menos as vezes – mais frequentemente para os grandes jogadores do que para nós.
Porém, a mente que é mais importante de ser controlada na mesa de poker não é a do seu oponente, é a sua. Se você não está no controle da sua mente, você não consegue usar para fazer tudo o que ela precisa estar fazendo.
Você deve controlar a sua mente para que ela não se foque na bad beat que ocorreu a uma hora atrás, ou às finais da NBA que estão passando na televisão, ou aquele cara bêbado e irritante que não para de falar do outro lado da mesa, ou o quanto você precisa vencer hoje para quebrar a sua sequência de dias seguidos perdendo.
Quando eu começo a falar sobre a importância de a sua própria mente enquanto está jogando poker, eu deveria apenas me calar e me virar para Tommy Angelo, que tem escrito de forma mais eloquente sobre o assunto do que qualquer um que eu conheça.
Uma vez ele perguntou: o que fica no caminho da sua atenção? Seus pensamentos. Por que você fica irritado? Porque você pensa que os pensamentos estão te irritando. Por que você perde o foco em uma mesa de poker? Porque seus pensamentos estão vagando, levando você junto com eles ao passado e ao futuro.”
“A ação a ser tomada é aprender como parar seu pensamentos improdutivos, sempre que você quiser, com a finalidade de liberar espaço para algo melhor”, ele continua, “Se você quer ser tão bom quanto é capaz de ser no poker, você precisa de uma mente que seja tão forte que seja capaz de parar a si mesma.”
Angelo dá mais detalhes sobre esse ponto na última seção do seu livro, Elements of Poker, e passa ao leitor técnicas para fazer isso, particularmente controlando deliberadamente a sua respiração:
“Você pode, na verdade, usar o corpo para convencer a mente de que tudo está bem. A mente – que a um momento estava em desordem – não consegue deixar de notar que, de repente, os sinais do corpo estão dizendo que tudo está bem. Os pulmões estão inflando e desinflando calma e lentamente. A boca está fechada. O que quer que tenha se passado, bem, parece que já passou. A mente diz a si mesma”Acredito que eu também possa relaxar agora”. E a mente se acalma…
A causa primária do tilt é uma dor mental, como a raiva, o medo, o arrependimento, a injustiça, o desapontamento e a vergonha. O único lugar em que a sua dor mental habita é dentro da sua mente. A única coisa que a sua mente faz é pensar. Quando você presta atenção na sua respiração, você desvia o seu foco com relação ao pensamento.
Então esse é um começo para a sua prática de controle mental enquanto joga poker. Isso sozinho não te levará ao nível dos truques mentais do Negreanu, nem mesmo ao nível de controle sobre os outros do Kilgrave. Porém, se você pode aprender a controlar a sua própria mente, não há limite com relação ao nível que você possa alcançar.
Artigo traduzido e adaptado do original: Is Mind Control in Poker Possible? Yes, It Is
