Logo depois do tiroteio na Columbine High School, no estado norte-americano do Colorado, em 1999, me lembro de ter visto um artigo de opinião que apoiava o porte de armas para alguns professores selecionados. O artigo incluía uma frase que ficou em minha cabeça desde então: “Problemas até agora impensáveis exigem soluções até agora impensáveis.”
Não importa sua opinião acerca do armamento de professores, esse não é o ponto. A questão é como percebemos novos problemas e novas soluções. Vamos a um exemplo concreto.
Na minha mais recente sessão no Harrah’s Cherokee ($1/$2 no-limit hold’em), eu estava jogando apenas o ABC do poker no começo do jogo, como normalmente faço. Gosto de persuadir a mesa a pensar que aposto ou aumento apenas quando tenho boas mãos, e dou check e fold quando não tenho. Depois que eles estiverem pensando isso, se torna muito mais fácil explorá-los com blefes e slow playings.
Depois de algumas mãos eu tinha aumentado antes do flop somente com cartas altas ou mãos especulativas como suited connectors, tive poucos callers e errei os flops. Como eu queria estabelecer uma imagem séria preferi não apostar estando totalmente air, contra vários oponentes, então optei pelo check-fold.
Depois disso ter acontecido algumas vezes percebi que um dos jogadores big stacks da mesa começou a apostar em flops que dificilmente melhorariam minhas mãos iniciais possíveis. Por exemplo, se o flop vinha :9d :5c :3s , ele aparentemente pensava que eu tinha errado o flop com as mãos que eu provavelmente teria aumentado no preflop, como AJ+. Então ele arriscava roubar o pot.
Isto foi, sem dúvida, inteligente. Ele estava jogando a matemática, que diz que a maioria dos flops não melhorarão a maioria das mãos dos jogadores. Não sei se ele realmente acertava os flops ou se apenas decidia que provavelmente ninguém tinha acertado, deixando o caminho aberto para blefes seguros. De qualquer forma, ele levava os potes sem ser contestado.
Mas depois que isso aconteceu duas ou três vezes o padrão era bem óbvio para qualquer um que prestasse um pouco de atenção. Então, na próxima vez em que o mesmo padrão apareceu eu estava pronto. Eu aumentei com KJo, alguns jogadores pagaram e vimos um flop com cartas desconectados e sem ases ou cartas vestidas. E como esperado, o big stack saiu apostando $15, comigo e mais outro jogador na mão.
Baseado no mesmo raciocínio que ele usava. Eu sabia que muito provavelmente ele não havia conectado qualquer jogo forte com esse flop. Poucos jogadores de $1/$2 NLHE conseguem resistir à tentação de dar slow play em mãos grandes, como trincas. Eu estava confiante que sua aposta representava nada além de um top pair, e provavelmente menos que isso. Da mesma forma, era improvável que o outro jogador teria acertado algo grande. Então, aumentei para $40 e levei o pote.
O que importa aqui é porque isso funcionou – porque era a primeira vez que ele me via fazer esse tipo de ação. Eu fui mais agressivo do que estava sendo até então. Sua conclusão natural foi de que uma aposta agressiva e inesperada implica uma mão muito forte – como uma trinca, ou ainda par de ases ou de reis, que não precisam da ajuda do flop para ser a melhor mão.
Foi o mesmo raciocínio que me fez dar fold em cartas altas a primeira vez em que ele apostou nessa mesma situação. Concluí que ele provavelmente tinha algo grande, enquanto eu não tinha. Mas depois de ver ele fazer aquela mesma jogada algumas vezes mais, ela deixou de ser forte. Se tornou mais difícil dar crédito a ele por ter algo forte que valesse a pena apostar todas as vezes.
E, claro, se eu continuasse aumentando suas donkey bets, como fiz aquela uma vez, cedo ou tarde ele pararia de assumir que tal agressão representava uma mão forte.
Este é o ponto: A primeira vez que um oponente observador te ver tomar uma ação incomum de força, você terá muito respeito. Porém, da segunda ou da terceira vez você provavelmente não terá tanto respeito assim.
Mas então, como explorar esse conhecimento? Bom, pense um pouco. Quando você realmente tiver uma mão monstra, você quer que os oponentes paguem ou desistam? Paguem, certo? Porém, quando você faz algo muito agressivo você provavelmente terá apenas folds. Isso significa que a jogada mais inteligente é fazer movimentos agressivos quando você tiver um jogo fraco.
Então faça de novo alguma outra vez, e novamente sem uma mão forte, e você provavelmente vai se livrar de novo.
Mas na terceira vez, assumindo que seus oponentes estejam prestando atenção no jogo, é melhor que você realmente tenha a mão forte que está representando, pois neste ponto você já levantou suspeitas e a curiosidade dos seus adversários. Quando você achar que vai ser pago, aqui que você deve realmente ter a mão monstra, para extrair o máximo de valor possível das mãos que são fortes o suficiente para ousar pagar suas apostas.
A maioria dos jogadores desse nível entende tudo ao contrário. Eles são agressivos antes do flop dando limp-reraise na primeira vez em que pegam AA ou KK. Ou aplicam seu primeiro check-raise apenas depois de flopar uma trinca.
Esses jogadores não estão pensando de forma detalhada. Eles estão induzindo ao fold quando deveriam estar tentando fazer com que paguem suas apostas. Uma estratégia muito melhor é usar o crédito de ser um jogador agressivo pela primeira vez e levar um pote que você não conseguiria ganhar apenas com a força da sua mão – isto é, em um blefe puro.
E como bônus, desse jeito é bem mais divertido!
Traduzido e adaptado de: Picking Profitable Spots: Learn How to Set Up Your Aggressive Moves