MestreFilipe em Foco

Luiz Filipe Ferreira de Andrade. O mesmo garoto que jogava Poker na oitava série, apostando balas na hora do recreio, evoluiu até se tornar o MestreFilipe, brasileiro número 1 em 2012 no ranking do SuperPoker. Saiu dos torneios live no Paraná, estado onde nasceu, até se apaixonar pelo Poker online e enfrentar rivais do mundo inteiro. Poker, para ele, é mais do que um jogo. É profissão. Melhor ainda se for para trabalhar em um torneio multi-tables, no tradicional Texas Hold’em, sua modalidade preferida. E foi assim, namorando as cartas do baralho, que MestreFilipe já acumulou mais de US$480.000 em vitórias e diz ter conquistado sua independência financeira.

Para saber um pouco mais sobre a trajetória do curitibano, o Poker Dicas puxou MestreFilipe para uma conversa. Confira abaixo essa entrevista exclusiva:

 

Poker Dicas: Como você entrou para o mundo do Poker?

MestreFilipe: Comecei a jogar na oitava série, apostando bala na hora do recreio. Depois, na faculdade, um amigo me chamou para um churrasco. Disse que todo mundo tinha que pagar R$100, R$20 para cerveja e R$80 para um torneio de Poker que eles organizaram. Mas o estilo Texas Hold’em, só conheci em 2006, quando eu tinha 22 anos. Eu estava num hotel em Santa Catarina e tinha uma mesa jogando. Eles me ensinaram o básico, mas foi aí que eu me interessei, passei a pesquisar sobre o assunto e aprendi as regras.

PD: Então, conta como foi o início da sua carreira.

MF: Minha trajetória começou  no live, com torneios de R$15 em clubes pelo Paraná. Fui fazendo dinheiro e comecei a me empolgar com o negócio. Aí, ainda no meu primeiro ano, um amigo insistiu que eu tinha que ir para Las Vegas. Ganhei dois torneios lá. Um no Belaggio, outro no Wynn.

Nessa viagem, acabei emprestando US$4.000 para um cara e ele, em vez de me pagar em dinheiro, pagou em fichas do Full Tilt Poker. Foi quando passei a jogar mais no online.

Nessa época eu organizava disputas de Poker no Paraná pela liga AVANO. Era muito trabalho. Eu tinha que me dedicar bastante, ficar chamando jogadores para cada evento. Com o tempo fui vendo que o Poker online era muito mais fácil.

Eu tive uma good-run no live, fiz R$ 1.300 em um acordo no Heads-up do Paranaense, depois fui campeão e levei mais R$ 12.000 em um torneio. Decidi pegar esse dinheiro e montar meu bankroll no online. Primeiro no PartyPoker, depois mudei para o PokerStars. E aí, fiquei entre os 3 melhores do Brasil no ranking do SuperPoker em 2008, 2009 e 2010. Neste ano, estou em primeiro lugar.

PD: Você enfrentou algum preconceito ao se tornar jogador profissional?

MF: Minha família achou estranho no início. Mas, em 2006, eu estava me formando em Administração e, quando vi que estava fazendo dinheiro com Poker, decidi não pedir mais nada para meus pais. Eu queria provar que minha escolha não tinha sido ruim. Hoje eles já consideram Poker como qualquer outro trabalho, só não gostam muito dos meus horários. Às vezes é puxado. Você fica 12 horas sentado, nem vê a luz do sol. Mas eu conquistei minha independência financeira com o Poker!

PD: Algum arrependimento desde então?

MF: A única coisa que eu não faria de novo foi um acordo em 2010/2011. Eu estava indo muito bem, então, recebi uma proposta. Iam custear minhas idas a torneios live e eu repassaria parte do meu ganho para meus patrocinadores. O problema é que o acordo só me daria o dinheiro no final de um ano.  E isso desequilibrou minha balança, porque fui consumindo meu bankroll.

PD: Como você se prepara para um torneio?

MF: Gosto de descansar bastante no dia anterior para estar com a cabeça boa e não sentir o cansaço no final do torneio. Porque é assim, você senta e o jogo pode durar 10 horas. Fora isso, não tenho nenhuma superstição, um ritual. É só mesmo descansar, esquecer os problemas pessoais e focar na partida.

PD: Você pratica esportes? Acha que isso influencia no Poker?

MF: Ter uma preparação física é super importante. Eu estou tentando praticar tênis, jogar bola uma vez por semana. Poker pode se tornar um trabalho muito sedentário, você fica sentado por horas. Um esporte mais ativo é sempre bom.

PD: Qual é a diferença do Poker para outros esportes, em sua opinião?

MF: Por envolver dinheiro, com certeza o psicológico faz muita diferença e é muito mais utilizado do que em outros esportes.

PD: Seu negócio é MTT (Multi-table Tournament) e Texas Hold’em. Mas o que você acha do estilo Omaha e do Cash-game?

MF: Como o Omaha tem mais cartas, quatro em vez de duas, a equidade entre os jogadores é muito maior. É difícil tirar vantagem com sua mão. Mas acho pouco provável que esse estilo consiga desbancar o Texas Hold’em.

E quanto ao Cash-game, não é mesmo o meu tipo de jogo.

PD: Para você, quem é o maior jogador de MTT live e online do Brasil?

MF: Live, eu diria o Alexandre Gomes. Ele está meio parado agora, teve filho, mas é bizarro o tanto que ele conseguiu em pouco tempo. Ele é mesmo especial para jogar ao vivo.

Online, varia muito. Há algum tempo eu diria o Caio Pimenta, ele estava numa ótima fase, mas parou. Hoje, então, acho que diria o Caio Pessagno. Ele tem uma regularidade muito boa.

PD: O que você acha da evolução do Poker no Brasil, tanto no nível dos jogadores como na exposição na mídia?

MF: A qualidade dos jogadores tem melhorado muito. Acredito que 2012 seria o ano do Poker no Brasil. Porém, com essa nova regra de dedução de imposto na fonte, os torneios já estão perdendo um pouco do Field. Os jogadores simplesmente não aceitam perder 27,5% dos seus lucros.

E sobre a exposição na mídia, com certeza fico super feliz. É meu trabalho. Todo reconhecimento é bem-vindo.

PD: Uma mão que jamais esquecerá?

MF: Mesa final do EPT, um side event de 2000 Euros.

Eu era o segundo em fichas. Meus oponentes eram um russo, que estava ganhando e shovando qualquer coisa, e um romeno, com poucas fichas. A diferença de premiação era grande. Aproximadamente €180 mil para o primeiro, €98 mil para o vice e €44 mil para o terceiro.

O Russo shove no small blind, eu pago de 66 e a mesa segue. Ganhar esse pote provavelmente me daria o primeiro lugar do torneio. Na mão seguinte, ele shove Q2o, o romeno call com K10 e puxa. Na próxima jogada, faço shove no big com K9, o russo paga e eu caio em terceiro lugar.

PD: Um blefe inesquecível?

MF: No BSOP, final de 2011. Meu oponente sobe, eu call de AQ no botão. O flop foi 763 com 2 espadas e eu com A de espadas. No turn, veio um 4 de espadas. Meu oponente aposta 1100 e eu faço 3200. K paus no river. Ele aposta, eu faço shove e ele fold. Ele diz ter abandonado um trio de K.

PD: Um jogador que gostaria de desafiar para um HU (Heads-up)?

MF: Com certeza um jogador mais fraco! Haha!

PD: Qual você diria que é o maior objetivo da sua carreira?

MF: Meu maior objetivo agora seria ganhar um bracelete do WSOP, ou puxar US$1 milhão em um grande torneio live. Mas quero dar um passo de cada vez.

PD: Você foi afetado pelo episódio “Black Friday”, em 2011?

MF: Sim, todo mundo foi. No começo, o Field ficou bem mais fraco, afinal os americanos em média jogam muito bem. Mas isso, em minha opinião, serviu como um filtro. Os melhores estão mudando para países próximos para poder voltar a jogar, e isso já está dificultando um pouco as coisas hoje em dia.

PD: Por fim, defina Poker em uma palavra.

MF: Profissão.

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