Um amigo do poker estava me contando recentemente sobre um mútuo conhecido nosso que também joga. Esse colega estava conversando com o meu amigo sobre a importância de prestar atenção à mesa mesmo depois de você desistir da mão.
“As pessoas estão sempre usando seus telefones, se distraindo,” disse o rapaz. “Eles perdem muito com isso.”
O assunto, genericamente falando, foi bom. Penso que todos concordamos que há muitos detalhes importantes que podem ser úteis a você posteriormente se você deixar o seu telefone de lado e observar a ação depois de desistir da mão.
No entanto, enquanto esse rapaz falava sobre estar focado e atento às mesas, tornou-se claro que ele estava falando sobre algo um pouco diferente do que o meu amigo e eu estávamos pensando sobre quando dissemos que deveriamos ser mais observadores nas mesas.
Ele descreveu uma mão em que ele havia foldado T4 perante um raise e presenciado uma ação envolvendo outros dois jogadores. O flop veio K44, ele explicou, ressaltando como ele teria feito uma trinca e talvez ganhado um grande pote se não houvesse desistido da mão.
“Se eu não estivesse prestando atenção,” ele explicou, “Eu nunca teria sabido disso!”
Nós rimos da história que, de uma certa forma, mostrou alguns pontos importantes sobre onde devemos estar concentrando a nossa atenção quando estamos nas mesas (e onde não devemos).
Não preste atenção no que não importa
Um desses pontos, é claro, tem a ver com a completa inutilidade dessa informação sobre a qual o nosso conhecido estava focando.
Não sei os detalhes precisos da mão ou dos jogadores envolvidos, mas irei assumir que foldar T4 para um raise provavelmente foi a jogada correta para ele ter feito. O fato de duas cartas 4 saírem no flop dificilmente muda isso.
Entre jogadores novatos, esse não é um erro incomum de se ver – enfatizar fatores que não são relevantes, eventos futuros quando julgam decisões passadas. Claro, se soubéssemos que faríamos uma trinca com a nossa mão inicial, iriamos pagar o raise antes do flop felizes da vida. Porém, isso é impossível e de maneira nenhuma relevância à decisão que tomamos.
Até jogadores mais experientes às vezes desperdiçam muita energia mental nos “iria, deveria, poderia” modos de pensar – quando foldam em situações marginais e notam que, caso não tivessem desistido, boas coisas teriam acontecido. Nessas situações, às vezes, isso torna-se um pouco mais difícil de resistir ao pensar sobre os potes grandes que poderia ter ganho se não tivéssemos desistido da mão.
Porém, de novo, a próxima carta comunitária que veio depois do fold não era parte da informação disponível ao nosso alcance no momento em que a decisão precisou ser tomada. Claro, é difícil de evitar pensar sobre isso, mas não é relevante.
Focar nas ações dos outros
Isso denota o segundo e mais importante fator sobre prestar atenção às mesas. Nós deixamos o nosso celular de lado e estamos observando a ação atentamente. Porém, no que exatamente devemos estar nos focando?
Há muitas respostas que poderiamos listar para essa pergunta, mas a maioria delas podem derivar de uma única ideia. Depois de você ter desistido, ao invés de se martirizar sobre suas próprias decisões, concentre-se o máximo que você puder nas decisões que todos estão tomando depois de você. Além disso, enquanto você observa os jogadores desistindo, pagando, apostando ou aumentando, pense sobre como tais ações se encaixam nos padrões que eles têm demonstrado desde que você começou a jogar com eles.
Esse tipo de observação sobre os outros pode ajudá-lo a classificar os oponentes como fortes ou fracos, agressivos ou passivos, tight ou loose… – tudo isso será útil quando você, posteriormente, se encontrar jogando mãos contra eles.
Se você notar que um jogador fazendo muitas jogadas sem sentido, isso obviamente ajuda a revelar um padrão que ajuda a classificar esse jogador. Alguém que desisti de muitas mãos provavelmente é tight. Alguém que paga muito provavelmente é passivo. Alguém que jogue muitas mãos de posições iniciais provavelmente é mais fraco do que a média dos jogadores. E por aí vai.
Faça notas especiais sobre ações “inesperadas”
Também gosto de prestar atenção às situações em mãos onde as circunstâncias sugerem uma provável ação, mas o jogador faz outra coisa. Esse tipo de jogada “inesperada” pode, às vezes, ser mais reveladora do que outras. Em outras palavras, a todos os meus oponentes faço perguntas como…
- Quem está desistindo quando poderia ter apostado?
- Quem está pagando quando poderia ter desistido?
- Quem está apostando quando poderia ter dado check?
- Quem está aumentando quando poderia ter pago?
Quem está desistindo quando poderia ter apostado? Antes do flop a ação chega em fold até o jogador no botão que decide desistir ao invés de aproveitar a oportunidade de aumentar e talvez roubar as blinds. Esse jogador seria tight?
Quem está pagando quando poderia ter desistido? Um jogador dá raise de uma posição intermediária, o jogador no próximo assento aumenta e a ação chega em fold até o jogador na big blind que paga a 3-bet. Seria ele um jogador passivo/loose como o cold call parece sugerir?
Quem está apostando quando poderia ter dado check? Um jogador defende sua big blind pagando, depois dá uma donkbet no flop. Seria ele um jogador fraco ou um jogador fazendo uma donkbet bem planejada?
Quem está aumentando quando poderia ter pago? Uma mão chega ao river e a ação chega em check até o agressor que decide apostar 1/4 do pote, é pago e mostra um segundo par – uma mão com a qual o jogador poderia ter dado check. Seria ele um jogador forte ou agressivo criativamente buscando uma aposta por valor?
Conclusão
Note como perguntas genéricas levam a outras ainda mais específicas, o que pode ser respondido observando o mesmo jogador jogando mais mãos. Esse é o diálogo interno no qual me encontrei tendo quando passei a me concentrar e me atentar às mesas – uma espécie de jogo extrovertido de “Perguntas e Respostas” sobre todos.
Também estou revisando minhas próprias ações, analisando tão bem quanto consigo, não importando se tomei uma boa decisão enquanto também penso sobre o que o meu padrão pode estar sugerindo aos outros sobre o meu estilo ou habilidade. Mesmo assim, estou guardando para mais tarde a auto análise mais minuciosa ou julgamentos sobre a minha jogada – isso é, quando não estou tentando me concentrar em novas mãos sendo jogadas na minha frente.
Em outras palavras, estou tentando não gastar muita energia nas mesas preocupando-me com decisões que tomei. E, de maneira nenhuma, focando nos flops que eu poderia ter acertado se tivesse jogado com T4!
Artigo traduzido e adaptado do original: Paying Attention at the Tables: Learn to Sharpen Your Post-Fold Focus