Depois de jogar minha série rotineira de torneios online, sempre fico me perguntando a mesma coisa: “Como que jogadores que consistentemente vão longe em torneios ganham mais fichas do que o jogador mediano?” A resposta para essa pergunta é que eles conseguem se sair bem mesmo jogando mais mãos do que dizem todos guias de poker, que nos falam repetidamente para jogar de forma conservadora. Esse conselho existe para te ajudar a manter seu range forte o suficiente para aguentar ataques de jogadores bons. Mas e se você não estiver jogando contra jogadores bons? Se eles não são capazes de efetivamente atacar as brechas que você deixa, então não há razão para jogar de forma conservadora. A primeira linha de defesa são os jogadores com posição sobre você. Se você for capaz de passar por eles, o jogador do big blind será o único responsável por impedi-lo de dançar sobre a mesa. Ele deve ser seu alvo principal. Nos jogos small stakes que jogo, o big blind normalmente está mal equipado para defender seu posto.
Neste artigo vou compartilhar dicas sobre como consegui roubar mais potes do que deveriam deixar quando os jogadores na minha frente são fracos.
Primeira linha de defesa – Os jogadores em posição
Os jogadores com posição sobre mim são os primeiros na linha de defesa em prevenir que eu abra com muitas mãos. Há mais deles quando eu abro de posições iniciais, então eu foco em abrir de posições médias e finais. Ao fazer isso, esses jogadores farão mais 3-bets contra mim e blefando mais frequentemente após o flop, é bom ficar atento a isso.
Em jogos small stake, esses jogadores em posição são muito mais susceptíveis a apenas pagar do que apostar. Isso pode ser um problema se eles forem competentes no jogo pós flop, porém, felizmente, a maioria não é. Frequentemente, eles apenas pagam e desistem frente à primeira aposta. A beleza disso é que seu call pré-flop seduz o big blind a pagar com um range mais amplo de mãos. Se o jogador em posição desistir frente à minha c-bet e o big blind pagar com esse range amplo, ele sofrerá para defender sua mão no turn e no river. É nessa situação em que sou lucrativo.
Última linha de defesa – O jogador no big blind
Nos jogos small stakes, a maioria dos jogadores pagam apostas no river mais frequentemente quando isso não custa todo seu stack para ser feito. Por isso, eu apenas amplio meu range de mãos iniciais quando identifico stacks que consigo deixar comprometidos e colocar em situação de all-in no river. Pela minha experiência, isso quer dizer um stack de cerca de 20 a 40 big blinds. Se o jogador em posição não estiver defendendo efetivamente e o big blind tem o stack acima, vou abrir com um range muito amplo de mãos, como offsuits médios e suited baixos conectados. Gosto de mãos semiconectadas pois elas normalmente flopam algo bom e me dão boa equidade contra mãos fortes que erraram o flop. Geralmente, jogadores de small stakes no big blind pagam apostas pré-flop e no flop com um range muito amplo e acabam desistindo da mão no turn ou no river, quando eles percebem que sua mão é muito fraca para arriscar todo seu stack com ela.
No passado, eu desistiria de mãos marginais em spots assim para preservar minha equidade de fold pré-flop ao dar um 3-bet shove contra jogadores agressivos. Agora, acredito que devo abrir com um range amplo e usar meu stack pela sua equidade de fold. Prefiro jogar dessa forma pois um shove 3-bet contra um jogador agressivo é um blefe óbvio que me custará todo o stack quando falhar. Jogar com foco no pós-flop me permite jogar com um range mais fraco contra o range forte do big blind, que estará fora de posição. Cada street é uma nova oportunidade de forçar o fold. Se ele quiser jogar pelos stacks, normalmente irá aumentar e me dar a oportunidade de dar fold e preservar meu stack para uma nova tentativa depois. Quando ele decidir apenas pagar, seu range ficará mais “capped” ainda, o que aumentará minha equidade de fold em streets seguintes.
Exemplo
Essa oportunidade surgiu em uma mão de um torneio online porque o jogador no big blind era previsivelmente passivo. Nos níveis 1000/2000/200, eu abri com 8h6c de uma posição média para 5000, de um stack de 60000 para seu stack de 75000. A mesa rodou em fold até ele, que pagou. O flop veio Jc7h3d e ele pagou uma aposta de meio pote. O turn trouxe um Td, me dando um gutshot straight draw. Novamente, apostei metade do pote e o vilão pagou. Minha aposta no turn precisava funcionar 33% das vezes como um blefe complete para eu ficar break-even, mas como eu tinha uma chance de 9% de acertar meu straight, eu precisava que ela funcionasse apenas 24% das vezes.
A maioria dos jogadores de small stakes teria aumentado no turn com dois pares ou melhor, então, quando ele apenas pagou minha aposta no turn, eu esperava que ele tivesse Jx e alguns combos de 7x. O river trouxe um 2d, completando o backdoor flush. Nesse momento, o pote tinha 22 big blinds, que era mais ou menos a mesma quantia que me restava. Eu shovei e o vilão desistiu mostrando 9h7c.
Análise final da mão
Após analisar a mão, acredito que meu shove no river foi um erro. Esse shove do tamanho do pote precisa funcionar 50% das vezes para me deixar break-even. Pelas minhas contas, pares abaixo de top pair representavam 43% do range do vilão, e o resto era top pair ou melhor. Creio que meu shove faz com que os pares baixos desistam da mão, mas não os melhores pares. Isso significa que o shove que fiz funcionaria apenas 43% das vezes, e não 50%, que é o que eu preciso. Uma abordagem melhor seria ter apostado metade do pote no river. Essa aposta precisaria funcionar apenas 33% das vezes. E acredito que ela seria suficiente para fazer ele desistir da parte debaixo do seu range, ou 43%.
Conclusão
Tenha em mente que essa estratégia é fortemente dependente da passividade do seu oponente. Ela é facilmente explorada por jogadores que aplicam muitas 3-bets, aumentos blefes pós-flop e armadilhas com mãos fortes. Essa estratégia não irá funcionar se você usá-la muito frequentemente. Por sorte, há muitos torneios small stakes onde você será um total desconhecido.
Além disso, essa estratégia de frequentemente atacar jogadores com stacks médios no big blind me levou a vencer muitos potes pequenos e médios sem showdown. Isso deixa meu stack mais saudável conforme os blinds escalam, sem precisar arriscar um shove quando a mão certa vier. Se eu der alguma sorte e conseguir dobrar quando receber uma mão de verdade, faço isso de um stack médio para um stack grande, e não de um stack pequeno para um médio. Isso me coloca em uma posição para brigar pelas primeiras posições do torneio, e não apenas sobreviver até a bolha estourar.
Artigo traduzido e adaptado do original: Carlos Welch – Targeting Medium Stacks
Lol muito boa a abordagem! Isso explica pq frequentemente to lutando pra sobreviver no “sufoco” numa reta ou bolha. Falta luta, trabalhar mais pós flop. Show!!
Bacana demais, né, Rogério?
Vamos trabalhar esse pós-flop e forrar, então… Heheheh
Abs.