De acordo com David Sklansky em seu livro “The Theory of Poker”, a maneira correta de se jogar uma mão é jogar exatamente da mesma forma que jogaria se soubesse quais são as duas cartas de seu oponente.
Como sabemos que isso é impossível, o que vamos tentar fazer é tentar imaginar a mão de nosso oponente – ou melhor dizendo, seu range de mãos, que é um grupo de mãos possíveis, baseado no tipo de jogador e suas ações.
Imagine um range
Você já deve ter ouvido frases como “eu te dei um dez, por isso dei call” ou “eu te coloquei em um rei, por isso dei raise”.
Esta não é uma maneira correta de se pensar nas cartas de nosso oponente. Adivinhar com precisão exata as duas cartas que ele segura é praticamente impossível, portanto, você deve tentar imaginar o range de mãos que ele joga.
O problema é que colocar seu oponente em um range não é tão fácil quanto parece.
No início de uma mão, a informação disponível é tão pequena que isso acaba deixando o range de seu oponente muito amplo.
Com o decorrer da jogada, você consegue ir pegando as informações e reduzindo o range, aumentando assim a precisão.
Exemplo – No-Limit Hold’em cash game online com blinds $1/$2 e stacks efetivos de $200
Seu oponente no botão joga um jogo padrão tight agressive (também conhecido como TAG – jogador que joga poucas mãos com muita força e agressividade), com status de 18/15 (relação número de mãos/pré-flop raise).
Você tem :Jh :Jc e aumenta para $7 do UTG (primeira posição a falar).
Dois jogadores dão call e o vilão também dá call no BTN.
Como dois jogadores entraram antes dele, o range dele aumenta e fica muito mais amplo do que o normal, ainda mais considerando que ele tem posição absoluta.
Agora vamos pensar no range: podemos excluir AA, KK, QQ e AK, porque com estas mãos ele quase sempre daria raise pré-flop, ainda mais contra vários oponentes.
Então, se fosse você um jogador TAG e estivesse nesta situação, que tipo de mãos jogaria?
A resposta é simples: mãos que jogam bem o pós-flop em potes com muitos jogadores.
Que fique claro que um range nunca é 100% preciso, mas conseguimos uma boa precisão ao analisar bem as situações. Neste caso, podemos imaginar as seguintes mãos para o jogador: AJ, Axs, KQs, KQo, KJs, 56s a QJs, 97s a J9s, 22 a TT.
Esse range é bem amplo como podem perceber, e para reduzi-lo temos que esperar pelo flop e observar suas ações.
O flop
O flop vem :6s :7s :2h. Você aposta $25 e os dois limpers dão fold, já o botão dá call.
Seu oponente deu call pré-flop após os dois limpers e agora pagou também sua aposta no flop. Você pode tirar várias mãos de seu range após esta ação.
Primeiro, você pode eliminar os overcards (duas cartas mais altas do que a mesa, por exemplo KQo). Um oponente TAG foldaria overcards para uma aposta ao errar o flop.
Se ele tivesse um overpair como 88 ou 99 ele provavelmente daria raise no flop, então podemos descontar estas mãos também.
O que nos restou foram os draws, sets, dois pares e mãos fracas como um par.
O range de nosso vilão após o flop foi reduzido para algo como: 89s a KQs, 67s, 89, 78, 79, 77, 66, 55, 22.
Com todas essas mãos nosso vilão TAG provavelmente daria o call pelo menos no flop. É claro que em algumas mãos nosso vilão daria raise, mas como estamos tentando criar um range, é melhor colocar todos os tipos de mãos possíveis que continuariam após o flop.
Como você pode notar, eliminamos uma boa parte das mãos de nosso vilão, agora já temos idéia do que nosso oponente pode ter.
O turn
O turn traz um :Ts. Você aposta $50 e seu oponente dá raise e vai de all-in. Você dá o call?
Vamos pensar no range de nosso oponente. Que mãos dariam call pré-flop, call flop e raise all-in turn?
De acordo com o range de mãos que temos de nosso adversário, estamos completamente batidos nesta mão. Raramente ele seguiria esta linha de ações com mãos piores do que imaginamos em seu range.
Tudo fica mais claro quando temos informação
O que começa como uma visão embaçada na neblina vai ficando mais claro e óbvio quando vamos colocando nosso oponente em um range e tomamos decisões baseadas em dados e informações.
Lembre-se, a idéia do range é colocar nosso oponente em uma gama de mãos, e não em uma mão exata. A idéia é simples: eliminar o que ele provavelmente não tem e imaginar o que resta.
Entender bem o conceito de range e análise do mesmo é uma das ferramentas mais importantes para melhorar seu jogo no poker.
Se você pode deduzir de forma precisa o range de seu oponente, você cometerá menos erros, e conseqüentemente ganhará mais.
Artigo traduzido e adaptado do original: How to put your oponent on a range by: Daniel Skolovy
interesante ….
Agradecemos!
Que livro me recomendam para melhorar esse aspecto do meu jogo ? Jogo Poker a pouco tempo, me identifiquei muito com o jogo e tenho bastante facilidade em assimilar conceitos. Desde já agradeço.
Vitor, tem os livros do Harrington que acho muito bons, sei que tem muita gente que fala que as informações de livros são ultrapassadas e preciso concordar de certa forma, mas tem muita informação preciosa, afinal não existe o hoje sem que tenha existido o ontem. E sim a meu ver se aprende muito com livros até porque muitos dos que falam não compreendem que cada pessoa assimila as informações de uma forma. Qualquer coisa me manda um email e vamos discutindo sobre o assunto. [email protected]
Gostei muito do artigo. No online principalmente é complicado analisar o adversário, conseguir formar ideias de range é uma boa estratégia. Se puderem gostaria de ler mais artigos sobre o assunto. Obrigada.